sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Entrevista Especial: Sandra Machado - A Arte Amazônida na Moda



A estilista goiana Sandra Machado conseguiu de uma maneira extraordinária traduzir a beleza da arte indígena da Amazônia, para o mundo da moda. Conheça mais sobre ela, nessa entrevista especial.

http://estilosandramachado.blogspot.com/

Foto de Carlos Silva

Quando você começou a se interessar em moda? E quais foram os teus primeiros trabalhos?
Interesse pela Moda tenho desde que me entendo por gente. Tenho duas irmãs bem mais velhas e adorava ficar vendo elas se maquiarem e se vestirem pra sair. E ficava horas fazendo roupa de boneca, ao invés de brincar de casinha ou de qualquer outra brincadeira. Fui educada em colégio de freiras onde aprendi bordado, crochê e tricô e sempre utilizei essas técnicas para personalizar minhas roupas.

Quanto a cultura paraense é uma influência no teu trabalho?
A influência da cultura paraense no meu trabalho é total e definitiva. A cultura indígena é outra paixão de sempre. Sou goiana de Anápolis, cidade do planalto central. A proximidade com Brasília me deu o senso de cosmopolitismo, pois o mundo está representado ali, nas embaixadas. E os jovens filhos de embaixadores e funcionários das embaixadas trouxeram, por exemplo, o movimento punk para o Brasil, via Brasília. Mas sempre vi o povo goiano com críticas pelo fato de terem como herói o Anhangüera, um bandeirante que dizimou nossos índios pra roubar seu ouro. No Pará, eu pude mergulhar na cultura indígena, trabalhando como etnóloga entre os indios Kayapó e nos materiais orgânicos encontrados no Ver-o-Peso, como as sementes e fibras. Eu fui a primeira a usar o tururi na Moda. Criei um vestido de tururi e plumas de marabô para a novela Filhas da Mãe em 2001. Esse tipo de material antes só era usado no artesanato. Apesar de ser goiana de nascimento, me considero uma estilista de raízes paraense conectada ao mundo.

Para você, quais foram os teus projetos mundo da moda, que poderias destacar?
Meu trabalho é classificado com ArtWear, que extrapola o universo da moda varejo, digamos assim. Teve três momentos que foram determinantes para minha segurança como artista, estilista e figurinista. Como artista foi o sucesso que fiz na França com o lançamento da edição Francesa do Cobra Norato que ilustrei com batiks em seda. Quando vi uma matéria em destaque no Le Monde me classificando como uma "artista que utiliza a vestimenta como veículo de expressão", passei a ter coragem de eu mesma me chamar de artista. Outro momento foi quando submeti uma coleção minha à avaliação da Cristina Franco e ela me disse pra vir pra São Paulo, que aqui é meu lugar, pra eu não desistir, pois que tem muito pouca gente fazendo o que faço e que tenho um mercado garantido, só preciso chegar ao meu público. E, como figurinista, foi o sucesso das combinaisons que criei para o figurino do DVD da Fafá de Belém e que recebe elogios rasgados por onde passa. Duas dessas peças estão na Mag! Luxo, escolhidas pelo próprio Paulo Martinez.

Quais são os teus planos, dentro da perspectiva da moda, para 2010?
Bem, comecei o ano fazendo o figurino do 3º CD da Iva Rothe, o que me deu muito prazer pois a admiro muito como artista e como pessoa. Fiz uma peça linda pra ela, que está na da capa e encarte do CD em fotos da Walda Marques e estará no Show do dia 6 no Theatro da Paz.
Estou fazendo o figurino do DVD de 35 anos de carreira da Fafá e vou fazer também o figurino do primeiro álbum da Mariana Belém, convite que me emocionou muito, pois é uma artista que trata sua arte com respeito e carinho e vem amadurecendo este trabalho há anos.

E o quanto a música influencia no teu trabalho?
A música é vital para mim. Quando não estou ouvindo estou pensando em música. Cresci numa família muito musial. Meu pai era fã da Dalva de Oliveira, Elza Soares, Maysa, Nelson Gonsalves e Francisco Alves, meu irmão de Elvis Presley e Bossa Nova, minhas irmãs, Beatles, Rolling Stones e Tropicália. Isso me deu uma formação musical bem eclética, apesar de me considerar Rockin'n'Roll. Posso ficar sem TV numa boa, mas música não pode faltar.


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