sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Blog Som do Norte (www.somdonorte.blogspot.com) - Direto do Sul do País, um blog dedicado à música nortista










Fábio Gomes - Jornalista do Sul apaixonado pelo Som do Norte é o responsável pelo blog Som do Norte (www.somdonorte.blogspot.com), atualmente, é uma das grandes referências nacionais sobre o que está acontedendo de mais interessante na música, dos mais variados estilos, no Norte do Brasil.







Como surgiu o teu interesse pela música paraense? O que você poderia destacar?


Em meu trabalho como jornalista cultural (edito há sete anos o site www.brasileirinho.mus.br), procuro sempre estar aberto para os sons de várias partes do Brasil. Mas só fui me dar conta de que nessas várias partes não estava presente o Norte ao ser convidado pra cobrir o Festival Varadouro, em Rio Branco, em setembro de 2008. Pouco depois, ao começar a trabalhar como assessor de imprensa de alguns artistas de Belém, comecei a ter mais contato com a cena daí, conhecendo outros artistas e me inteirando de características muito peculiares da cena local. Por exemplo, é incomum fora do eixo Rio-São Paulo o artista fazer várias apresentações por mês ou mesmo por semana na própria cidade, em bar e em teatro, durante o ano todo! Isto cria um mercado fantástico. Em Porto Alegre, só pra efeitos de comparação, é raro que o artista local toque na cidade mais que duas ou três vezes por ano, sem falar que show em teatro só se faz pra lançar CD.


Outra coisa incrível na cena de Belém é que vocês têm artistas de muita qualidade em qualquer estilo musical. Eu não gostaria de citar nomes, porque estamos em pleno "processo eleitoral": atualmente, o Som do Norte realiza a enquete Música do Ano, na qual nossos leitores irão apontar, dentre as canções compostas e gravadas por nortistas, qual delas marcou 2009. Num total de 41 músicas, 16 são de artistas paraenses - a relação completa está em http://somdonorte.blogspot.com, e será mantida na capa do blog até o final da enquete, no próximo dia 30. Mas, enfim, não fugindo totalmente da pergunta: dos nomes paraenses que concorrem, três foram indicados pelos leitores - Arthur Nogueira ("Sei Lá"), Joelma Kláudia ("Um") e Madame Saatan ("Rio Vermelho") -, os demais foram pré-selecionados por mim.



Para você, por que a música paraense não consegue um destaque maior na grande mídia e se torna mais popular?



Entendo que você pergunta sobre a música paraense porque é o seu Estado, mas a situação é a mesma se pensarmos na música amazonense, ou sul-mato-grossense ou gaúcha: toda a produção musical feita em qualquer parte do Brasil que não corresponda aos "padrões de mercado" não encontra espaço na grande mídia - quanto mais autoral, densa e distante de estereótipos, mais difícil será sua difusão para as grandes massas. Aí vai de cada artista se posicionar: ao decidir se manter coerente com uma proposta musical que destoe do que a grande mídia veicula, deve estar consciente de que vai ter que trilhar um caminho alternativo a ela. Já houve um tempo em que o Brasil todo cantava música do Pará: ali por1989-90, a indústria fonográfica elegeu a lambada o "ritmo do momento". Isto colocou nas paradas de sucesso tanto grupos autênticos de lambada, com anos de trajetória, quanto dezenas de adesistas, que gravaram lambada almejando o sucesso fácil - e sem demora os adesistas passaram a ter mais espaço que os autênticos.

O resultado é que em pouco tempo o público ficou saturado, o mercado elegou nova "moda", descartando os artistas que até a véspera impunha ao país como "grandes nomes", e a lambada sumiu do mapa. Me corrija se eu estiver errado, mas até onde sei, nem no Pará hoje você encontra grupos, ao menos urbanos, dedicados à lambada. Basta comparar com a situação do carimbó, que não passou por esse processo de superexposição: há muitos grupos de carimbó, e até um campanha para torná-lo patrimônio imaterial brasileiro.





Como surgiu a ideia de criar o blog Som do Norte? E quais foram as repercussões?



O blog Som do Norte é fruto direto do que comentei nas duas respostas anteriores. Aos poucos fui me dando conta de que estava conhecendo todo dia trabalhos musicais de muita qualidade, mas sem a menor possibilidade de ganhar espaço na grande mídia - e nada indica que esse quadro irá mudar. Comecei então a veicular músicas de artistas de Belém no site Brasileirinho, mas aí uma coisa me preocupava. Como o site é focado em choro, samba e MPB, eu não tinha valorizar artistas paraenses de outros estilos, e muito menos como aproveitar devidamente um presente maravilhoso que ganhei do Sistema Público de Comunicação do Acre: centenas de gravações de artistas acreanos, a maioria de rock. Volta e meia também recebia CDs de artistas de Rondônia, enviados por amigos de Porto Velho; ano passado entrei em contato com o grupo Eware, formado por índios Tykuna do Amazonas, que numa entrevista ao site G1 falaram que queriam colocar o som deles na internet mas não sabiam como fazer... enfim, quando vi tinha em mãos um material culturalmente muito rico, por sua variedade e qualidade, e me senti no agradável dever de lhe dar visibilidade. Para isso, eu tinha dois caminhos: ou publicava tudo no Brasileirinho, descaracterizando a proposta original do site, ou criava um espaço novo, unicamente para difundir a produção musical nortista. Óbvio que a segunda opção era muito melhor, e aí coloquei no ar o Som do Norte.

A repercussão tem sido maravilhosa. O Som do Norte já foi citado em vários jornais do Norte - inclusive com grande destaque em A Crítica (Manaus) e no Jornal do Tocantins (Palmas) - e de outras regiões, como O Estado de Minas (Belo Horizonte), a revista Época (São Paulo), os sites Música, Teatro e Cia. (Maceió) e Visto Livre (Rio de Janeiro). A enquete da Música do Ano repercutiu de imediato, sendo citada na newsletter do Ná Figueredo no mesmo dia em que foi anunciada no blog. As bandas têm mobilizado os fãs no Twitter, pedindo que votem, e o resultado é que em menos de 48 horas já recebemos mais de 1200 votos. E quase toda semana algum texto nosso é citado ou reproduzido em sites e blogs de jornalistas e bandas do Norte.




Quais são os teus próximos projetos?


O primeiro é, com certeza, consolidar o Som do Norte como uma referência sobre música independente nortista. A primeira ação prevista para 2010 é em janeiro, tão logo seja anunciado oficialmente o resultado da Música do Ano, fazer entrevistas especiais com compositor, intérprete, banda, enfim, os responsáveis diretos pela criação da canção preferida pelos nossos leitores, e divulgar isso amplamente, em nível nacional. Uma meta constante é buscar tornar o blog melhor a cada dia, e aumentar o grau de interatividade com o público.

Ano que vem é também o Centenário de nascimento de Noel Rosa; desde março de 2008, divulgo no Brasileirinho a parte da obra dele que passou ao domínio público. No momento, estudo parcerias visando organizar uma grande homenagem a Noel, mas não posso adiantar nada por enquanto.

Fora isso, mais que projeto, tenho um desejo: poder ir com maior frequência ao Norte, acompanhando diretamente shows, festivais, toda a movimentação musical daí. Por mais que a internet encurte virtualmente as distâncias, sempre será preferível a observação direta do fato noticiado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário